<perversiário: Sade ou o Limiar da Transgressão
quinta-feira, dezembro 23, 2004
Sade ou o Limiar da Transgressão
A vida e a obra do Marquês de Sade representam (têm forçosamente de representar, pela sua radicalidade) o terreno de fronteira onde se interroga o erotismo enquanto força de transgressão. Enquanto transgressão naquilo em que a palavra «trangredir» se entronca no sentido profundo do que significa «o subsersivo». Ou seja no que «subverter» quer dizer para além dos significados que o conceito adquire (e adquiriu) do ponto de vista (ou com uma lógica) meramente politico-ideológica.

Aqui, subverter significa o inverter (ou a inversão) de uma ordem, seja ela qual for. Embora também se inclua facilmente, neste sentido amplo, a lógica estritamente politico-social e, por arrastamento politico-ideológica a noção que nos interessa tem um espectro maior- toda inversão em qualquer perspectiva de análise da realidade humana.

Ora, Sade, quer como «personagem» biográfica quer como autor nas suas obras, imprimiu um cunho de total inversão à realidade e se bem que, de alguma forma, restrito à temática sexual é evidente que daí extraiu como que um sistema filosófico completo, em que tudo o que se tinha (e ainda se tem) por adquirido no plano ético, social etc, se vê reflectido no seu (quase) exacto inverso (o «bem» transforma-se em «mal» e vice versa). Dada a brevidade que caracteriza estes textos, não pretendemos, contudo, intentar aqui a exagese desse sistema pois apenas usaremos a perspectiva aqui esboçada para colocar uma pergunta pertinente para a nossa particular questionação - será Sade um autor verdadeiramente erótico?

(Se bem que importe primeiramente dilucidar em que sentido o perguntamos. O que é o mesmo que dizer da necessidade de explicitar o que será aqui «um autor erótico»).

Pois bem, é ao mesmo tempo paradigma e a antítese do erótico.

Não o dizemos, por amor ao paradoxo, mas apenas para realçar o sentido polissémico do conceito de erotismo ou, quiçá, prevendo já um resultado provável da compreensão do erotismo como algo de paradoxal em si próprio.

Assim o é, numa determinada perspectiva que contém uma dimensão negativa (ou negadora) da mensagem ou resultado subjacente à sua obra. O extremar da resolução das dicotomias bem/mal, virtuoso/perverso etc., que, aliás, é acompanhado pela própria descrição circunstanciada de todos os «acontecimentos» que relata nos seus livros (descrição tão radical como a sua «filosofia») pode levar facilmente à rejeição do erotismo enquanto terreno onde se jogam todas essas dicotomias. O que pode levar a considerar a repugnância (a negação) desse extremar como factor des-erotizante.

Mas é essa mesma radicalidade que, inversamente, provoca fascínio. Pois bem, mesmo se o próprio Sade jogou com tal paradoxo, usando toda a ambiguidade de tais dicotomias, é exactamente aí que se desvela um dos sentidos do erótico - o erótico é sempre um sentir-se-em-si na sua plenitude de transgressão.

É a velha pergunta, haverá sequer erotismo sem alguma transgressão?
Ora, nem é só a «narrativa» de «episódios» com conteúdo sexual que convocam o erotismo (é claro que a temática, só por si, se situa, enquanto género literário, no campo do erótico/sexual, pornográfico até); são, sobretudo, os actos de absoluta transgressão (transgressão essa que se caracteriza pela subversão de toda a ordem previamente estabelecida) que evocam a ideia de erotismo enquanto algo de indissociavelmente ligado a um sentido de (total) subversão da realidade humana e que constitui, ainda, uma força libertadora.
4:15 da manhã

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